domingo, 5 de dezembro de 2010

Certeza


O passado nos assombra.

Mas ouça, meu bem:
esses temidos cacos de vidro,
mesmo se juntados,
nunca serão cálice outra vez.

Recolho-os e os passo.
(Assim ganho mais espaço).

Eu sei,

podem até fazer desses cacos,
campos ricos e ensolarados,
rios límpidos e afortunados,
amores pueris e bem aventurados.

Para mim,
são só cacos.

Incapazes de voltar à mesa
ou de substituir a beleza
das flores que agora vêm;

da fé que me esteia
do néctar que me nutre
e da luz que me mantém.


Ombro amigo




Em meio a pedras,
numerosos buracos,
com pés calejados,
sangrando cansaço

e um velho temor,

avisto uma luz

que, como um casaco,
esquenta-me os lados;
dá-me forte abraço
e um pouco de amor.


Por sorte ou destino,
adeus desatinos,
angústias e afins.

Dizem que Deus,
ao ver-me assim,
pôs ao meu lado
um anjo sagrado
orando por mim.