segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Aniversários



Muito tempo se passou.
Mas ainda falta tanto...

Quando será
que Deus me trará
o tão esperado canto?

Quando o dia chegar,
eu, de certa maneira,
pedirei sem receios
que me tome inteira.

Nesse dia, talvez,
já sem dor nem feridas
eu em luz acharei
o porquê dessa vida.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Catedral


Ao orar, encontrei-te,
santo que a mim
protege e abriga.

Sinto como se Deus,
em seu total poder,
tivesse lhe enviado
à minha vida.

Estás agora em meu altar,
onde o manterei eterno,
com todo zelo e cuidado.

Altar que, eu sei, não tão cedo,
mas já despido de medo,
será por fim revelado.

Pequena anotação II



Hoje não sou o samba.
Larguei o ritmo.
Não tenho cor.

Sou aquilo que se esconde.
O que pouca gente vê.
O penar que vem da ausência.
A dor de toda a existência.

Hoje, amor, sou a falta de você.

Sobre prisões e liberdades


Queres-me, e,
ao me querer,
pego-te em paz,
a me sorrir.

Mas já não sei,
passou das três.
E, ademais,
há tanta vida por aí.

Qual tal meu mal,
bem de outros tais,
em que um instante,
já satisfaz.

Tu não.

Queres demais.
A mim inteira.
A prisioneira
do teu velho
e morto cais.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Esperas




Onde estás tu, estranho,
que apareceste, assim,
de súbito, inesperado?

Que arrastaste, em ganho,
meu mundo, ao seu:
libertino e delicado.

Sonho casto, nossa dança.
O seu samba, finos seus.

Deram, a mim, esperança,
libertando sem fiança,
tediosos dias meus.

domingo, 6 de novembro de 2011

Recaída


Doces lágrimas de saudade
mostram algo ainda latente.
Toca-me, e, em um segundo,
vem-me o passado novamente.

O que estava escondido,
ao final, se libertou.

A casca de ira e indiferença,
diante da sua presença,
desfez-se em prol do amor.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Engesso



O sorriso daquela foto
nunca mais se repetiu.

Parece que o acaso sabia
que, cedo ou tarde, viria
um assombro repentino.
Insensato e sem aviso.

Ou então foi só a foto,
que, buscando a perfeição,
levou pra si o teu sorriso.

Sono


Eu queria que este momento

fosse uma pintura

em tela, a óleo.


E eu moraria nela para sempre.

domingo, 23 de outubro de 2011

Purgatório


O sereno e puro amor
que sentes ao me ver
é somente brisa leve
que se vai quando me vou.

Suas palavras são vazias.
Minha vivida alma sente.
Os lábios sabem enganar,
mas as mãos logo desmentem.

Eu sei quando não me amam.
Mas vejo que muito me quer.
Exijo à loucura, então,
que lhe tome enquanto puder.

E em agonia e aceitação,
vou esperando a lucidez,
que, justa e impassível,
fará tu partir de vez.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Labirinto II



(O levantar)

Agora vejo como antes não via.
Não me pareces mais tão sombria.

Vertigem,
eu, quando virgem,
não entendia.

Põe a pesar meus problemas,
massacra sem dó os dilemas
que me arrastam em suas batalhas.

Faz-me descer pelos cantos
mas só para ver se levanto
em busca de novas muralhas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Labirinto


(A queda)

Em instantes,
negros pontos,
alguns brilhantes,
me tomam a vista.

Pendo aos dois lados da pista.

Meu velho desequilíbrio,
eu, ébrio, à ti não minto:
és já parte de meu eterno labirinto.

Este que cerca e derruba.
Somatiza e desnuda.
Põe-me sempre adoecida.

E caio de novo em desgosto da vida.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Dia de Sol



Não se vá,
pequena menina;
que o dourado
dos seus cachos
sob o Sol
traz-me o gosto
do mais doce dos méis.

E o contraste
desses cachos
com o céu,
(cenário anil),
cega minha alma
e qualquer razão que,
por ventura,
em mim já existiu.

Desejo íntimo


O céu em crepúsculo.
Negros montes sem vida.
Estrada disforme e sofrida.
E sombras em conflito.

Constato, de pronto:
o fim já foi escrito.

A rotina me engole e me suga.
E o meu desejo de fuga
já não aparece há algum tempo.

Sinto que perdi o controle
de um viver entediante
que agora já não posso
(e nem sei) levar adiante.

Só sinto.
Finjo.
Minto.
Invento.
Procuro.
Espanto
o tormento,
o pranto,
a vontade de partir
de vez e com sucesso.

E extirpar todo esse tempo
vivido em excesso.

Amor e tempos




Quisera ser luz a me guiar
no tão árduo caminho.

Ao final das noites,
esperava-me sozinho,
em silêncio.

Silêncio,
atinado,
gritando
precisamente
as minhas
fraquezas.

Tentavas me avisar
de minhas tristezas.

Mas era dia.
Era verão.
E o barulho do mar...
Ah, o barulho do mar,
como este era forte e vívido;
como as canções tão alegres e
vibrantes me proibiram de lhe ouvir.

Como fui feliz ali...

Mas como vencidos guerreiros,
foram-se dezembros, natais e fevereiros.

E hoje, no frio das noites invernais,
rendo-me àquele que a mim ainda se rende,
e que reza (ainda e novamente)
pelo fim dos carnavais.

domingo, 7 de agosto de 2011

Caminhos



Fala-se em sonhos.
Trilhar caminhos.
Traçar estradas.
Formar seus ninhos.

Sair de casa.
Ficar sozinho.
Criar meninas,
(lugar ao Sol).

E então depois
uns dois meninos
pra levar ao futebol.

Já tenho netos.
Alguns formados.
E uns dois filhos,
divorciados.

E entre a dama e
o baralho, num
dia desses, que
sempre é sábado,
um breve olhar
para o passado

e me vem o mais cruel
(mas não raro)
questionamento:

deveria eu ter desviado
esse tão certo caminho
em algum certo momento?

Explicações



Acerca destes poemas
e destas cartas,
não te preocupes, meu bem.

É um aliviar de emoções, simplesmente.

Não me arrependo de ter partido.
E sequer tocarei no assunto
novamente.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Costumes da Terra V

(O Compromisso)

Má que nega mais tola

que num cuida mim
que intorna o feijão
queima o bolo de aipim.

Não tem força pra moer,
pra parir ou pra colher.
E sabe nada de criança!

Ah, meu velho,
e quando chega na festança,
dá-lhe vinho e quinhão!
Encanta os cumpade tudo
com a nada fina dança
e seu dado coração.

Mas é minha, meu Sinhô.
Teve jura na capela!
E homi de palavra que sou,
mesmo a moça sen’uma porta,
um casório não se cancela.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Jardins III


(A dúvida)

Podes ir, não faz mal.
Tua ausência é banal.

E a praça, já com flores,
já ganhou algumas cores
que meus olhos,
antes tristes,
não podiam enxergar.

Eu, sozinho, vendo os pombos,
já depois de tantos tombos,
finalmente, decadente,
me coloco a perguntar:

se os pássaros já cantam,
se as moças já me encantam,
e se a vida já não é
(e nem será) tão ruim assim,

quem sabe eu não planto
uma flor em outro canto
que sorria todo dia
e pertença só a mim?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pequena anotação


Ora, como reclamas

de toda minha atitude.
Falta-me um sonho inteiro,
sobram-me pesadelos,
falta-me um jeito rude.

Saibas, porém, que
se para me escrever,
for preciso padecer,
me ponho à disposição
e faço o que a dor quiser,
pois mesmo do mal me escondendo,
verei o sangue escorrendo
e a privação não vale
o que a poesia é.

domingo, 3 de julho de 2011

Luxúria

Pedra branca, lisa e fria

que sustenta nossa dança,

cujo frio arrepia,

e a dureza nos descansa.


Sobre ela, nos amamos.

Jeito leve, intenso e frágil.

Sobre ela o fogo vence,

nossos ventres se pertencem,

e casamos nossos lábios.

domingo, 5 de junho de 2011

Jardins II


(O Contraste)

Suas rosas brotando lá fora
ignoram sua longa ausência.
Uma brisa gelada adentra
e reforça a grave carência.

A ferrugem, como avisei,
arruinou o ferro barato.
O mofo (puro descuido)
já vestiu os velhos retratos.

Foi numa noite, dessas frias,
que sumiste por esses matos,
deixando na nossa história
(e nas tábuas) triste hiato.

Agora tudo são traças.
Finado tempo de graças.

E a grande janela, impassível,
escancara sem dó o contraste:
lá fora o pomar que plantou,
aqui dentro o jardim que podaste.

Jardins


(O Apelo)

Pensas em teus jardins
tão logo brota no céu
a mais pura e linda cor.

Mas, obstinada, eu imploro:
não se vá, meu amor!
Pois, te juro, lá do fundo:
eu também sou uma flor!

A mais frágil e seca escultura
do lado escuro do seu jardim.

Então vens, regues a mim!

Dá-me pleno o teu sulco.
Encerre logo este luto.
E não impeça que minhas
vivas cores se expressem.

Pois pétalas murchas, sabemos,
teus raros agrados desconhecem.

Despropósito



Fico sozinho à noite pra ver se consigo me encontrar. Mas nunca me livro do mundo. Ele sempre dá um jeito de me alcançar. Não adianta fechar as janelas e trancar as portas. Ele entra pelas frestas; escorre pelo telhado e chega a mim de uma forma ou de outra. Mas mesmo assim o ignoro e finjo que não o vejo.


Eu sei que ele vai desistir

mais cedo ou mais tarde.

Fins




Agora tinha acabado. Repensou todos aqueles fins tumultuados. Nas brigas sem causas, nos gritos, na raiva sem fim. Agora era de vez. Não houve sequer uma batida de porta. Apenas um ‘adeus’ rápido, pronunciado com entonação de ‘até logo’. Mas os dois sabiam que não se veriam mais. Ao observar o carro dele se afastando, os olhos dela ficaram mareados. Emanou certo arrependimento. Um medo: e se a saudade for infindável? No entanto, isso ocorreu por poucos segundos, pois logo pegou a chave de casa no bolso direito da calça, dando-se conta de que o jantar – e o mundo - a aguardavam. E isso pode parecer estranho, mas, uma vez tendo entrado em casa e batido o portão, nunca mais pensou nele.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Autoconhecimento


Cansei-me de ver isso.
Todos esses horários
e eternos compromissos.

No fim, deles sequer
levarão alguma lembrança.
Textos doutos, exaltados,
que resultam em cobrança.

Abraça-se o mundo todo.
Quer-se ele por inteiro.
Não me contenho e...

Parem!!!

Não se pode ter o mundo,
sem ter todo a ti primeiro.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Destempo



Não me esquivarei de mim,
pois em mim sou incrustado
como limo em pedras rasas,
como mofo em velhas casas,
como corpo suturado.

Mas tu não, tu podes partir.
Então fujas enquanto é tempo!
Deixe-me aqui, cativo, só,
alforriado em meu tormento.

Pois, para mim (como disseste),
qualquer chuva é tempestade;
cada onda é uma maldade.
E minh'aflição não enobrece.

Quero inteira a minha dor
de viver sobre este muro,
e ver-te assim, meu amor,
tão ofuscado pelo escuro,
faz de mim, vento infiel.

Vás, então, que - um dia - eu juro,
buscar-te-ei, bem mais maduro,
e te abrigarei sob o meu véu.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Curumim

Não se assustai,
pequeno guri.

Não me esqueci,
que, sozinho,
em algum lugar,
estás em espera.

E tu também,
nunca te esqueças
de minha jura tão sincera.

Tirar-lhe-ei dos negros vales
para tecer-lhe um belo canto.
Esquecerás dos velhos males
e dormirás sob o meu manto.

Dar-lhe-ei o meu amor,
que me domina tão latente,
aguardando que um dia,
sob a luz da calmaria
eu te encontre novamente.

domingo, 3 de abril de 2011

Delicado Desatino



Lua, que me roubaste a noite
e fizeste da festa, nós duas.

Que em repente chegaste
e tomaste conta da bela
que agora és tua.

Nua, que se insinua.

Crua cruel clarividente que nunca recua.

O torto canto que encanta
já tornou-se o meu mantra.

E sorrio por saber que um dia
outra vez serei tua.

Um dia, Lua.
Em que o Sol novamente há de nascer.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O canto


Morena tão doce
que, quando avistei
seus olhos alertas,
tão puros, intensos
(tom de descoberta),
encantei-me e não pude,

deixar de pedir,
com meu jeito rude,
um breve encanto.

O primeiro canto.

Sem qualquer alarde,
a menina, ladina,
abriu-me um sorriso,
e com toque preciso
uma graça me deu.

Permitiu que seus lábios,
exatos, em cores,
curassem minhas dores
ao tocarem os meus.

segunda-feira, 14 de março de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

(Des)projeção



Quem é você
que não mais vem
em seu cavalo branco,
acalmar meu pranto,
e me tecer de novo
o mais belo canto
já ouvido nesses jardins?

Quem são esses soldados
(agora bem armados)
que não mais se alinham
ou sequer replicam por mim?

Nossos cetros enegreceram.
Suas flores-de-lis padeceram

na água turva
sob os meus pés.

Foi depois daquela chuva
que lhe tirou o viço,
e, feito um mal feitiço,
tornou-te quem tu és.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Úlcera




Porque os seus braços eram nus.
Porque os seus braços eram meus.

Porque eu gostava de ver
as marcas de expressão
que se formavam
em torno de seus lábios
quando eles
apertavam um cigarro.

E de quando soprava
a fumaça com força
e me sorria
um sorriso indelicado.

Gostava de suas mãos.
Jazia-me em seus laços.
Perdia-me em seu cheiro.
Dormia em seu abraço.

E pensava ter encontrado
a mais pura das verdades.

Por isso esse aperto em tudo,
que é a dor da minha saudade.