quinta-feira, 25 de outubro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

Noticiado

Alguém me cura
e sutura a ferida
provocada pela vida
acertada pela bala
que então quase perdida
desviou-se da viela
para cair no folhetim.

Em total desventura,
não sou mais senhor de mim.

sábado, 25 de agosto de 2012

Inveja

Teus olhos brilham tanto,
tu tens tanto encanto,
não sei de onde vem.

Queria eu um tanto
de todo esse teu canto,
e brilhar assim também.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Lágrima II

Eu morri
quando passaste
e fizeste que não viu.

Minha fala disfarçou,
meu sorriso bem tentou,
mas de um jeito pueril,
meu olhar tão amador,
feito um fraco jogador
insensato, me traiu.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Quando o destino não ajuda


Quando eu deveria ter partido?
Ela estava pensativa, lustrando a prata vintenária que tinha comprado nas núpcias. Após o primeiro escândalo não dava. Maria Lúcia tinha acabado de nascer. Talvez na época em que Adalberto jogava aquele jogo de cartas... Mas Sophia estava com problemas no colégio, não seria justo com a pobrezinha.
Agora cada uma das filhas tinha sua vida. E ela, vida nenhuma. Seria preciso buscar algo novo, fugir da repressão de anos e dos resquícios que Dona Maria, sua sogra, havia lhe deixado a pensar diariamente. A prata mal polida. As louças da janta mal colocadas...
Era hora de viver, enfim. De ver a liberdade pela primeira vez em tantos anos. Largar o ranço da boa esposa infeliz, que passa o dia se preparando e a noite inteira esperando.
Pegou a bolsa. Levantou-se com coragem. E deu o primeiro passo decidido em direção à porta. Passos lentos, como se a cada centímetro caíssem pelo chão seus medos e suas antigas raivas. Até Darlene, a cozinheira, podia ver de modo claro a carga libertária daquela pequena caminhada. Ao por a mão na maçaneta, contudo, o telefone começa a tocar alto e insistentemente. Um susto.
Dona Lourdes, seu Adalberto infartou.
Dez segundos de receio.
Ela abre a porta.
E corre para o hospital.

domingo, 17 de junho de 2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Curta-Metragem II

Jogue a fita fora:
nela já não cabe
toda tua história.

Teus firmes passos
criaram laços
e os pés de aço
viraram glória:

nem mil dias de contos
honrariam tua memória.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Superego

Agradeço ao superego
pelo Id em sobrestado.
Antes um fraco probo,
que um herói desvirtuado.

Banho de água fria

Mando o meu mundo
numa carta azul.

Mas ninguém quer carta.
Nem palavras.
Nem azul.

No envelope a minha cara de tacho.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Estelionato

Convenceram-me, um dia,
que a mais viva harmonia
moraria em Pasárgada.

Venderam-me uma passagem para lugar nenhum.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Soberba



Abaixo do meu chão,
não piso.

Que isso custe
os meus risos,
o meu brilho,
minha cor.

Não matei-me
por mim mesma,
agora uísque
e muitas resmas,
mas não morro por amor.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Preguiça


Minha cama,
meu templo,
meu eterno sossego.

Onde, em ócio, repouso,
fugitivo do novo
e escravo do medo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Gula



Minha fome de vida
transformei em comida.

E o seu raro amor,
que tanta falta fazia,

eu agora devoro
várias vezes ao dia.