quarta-feira, 11 de julho de 2012

Quando o destino não ajuda


Quando eu deveria ter partido?
Ela estava pensativa, lustrando a prata vintenária que tinha comprado nas núpcias. Após o primeiro escândalo não dava. Maria Lúcia tinha acabado de nascer. Talvez na época em que Adalberto jogava aquele jogo de cartas... Mas Sophia estava com problemas no colégio, não seria justo com a pobrezinha.
Agora cada uma das filhas tinha sua vida. E ela, vida nenhuma. Seria preciso buscar algo novo, fugir da repressão de anos e dos resquícios que Dona Maria, sua sogra, havia lhe deixado a pensar diariamente. A prata mal polida. As louças da janta mal colocadas...
Era hora de viver, enfim. De ver a liberdade pela primeira vez em tantos anos. Largar o ranço da boa esposa infeliz, que passa o dia se preparando e a noite inteira esperando.
Pegou a bolsa. Levantou-se com coragem. E deu o primeiro passo decidido em direção à porta. Passos lentos, como se a cada centímetro caíssem pelo chão seus medos e suas antigas raivas. Até Darlene, a cozinheira, podia ver de modo claro a carga libertária daquela pequena caminhada. Ao por a mão na maçaneta, contudo, o telefone começa a tocar alto e insistentemente. Um susto.
Dona Lourdes, seu Adalberto infartou.
Dez segundos de receio.
Ela abre a porta.
E corre para o hospital.

Nenhum comentário:

Postar um comentário